quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Trá lá lá


A tua mão, a toda a velocidade, pára a milimetros do meu braço.
Um impeto não controlado, um controle não desejado.
Depois é afinal todo o teu braço que me apanha as costas,
Num gesto muito menos travado, conscientemente levado.
Apertas-me como se quisesses que soubesse de ti, sem teres de dizer.
E eu sei, correm-me palavras em cascata nos pensamentos,
Desordenadas.... e uma ou outra consigo travar antes de fugirem,
Atropeladas pelas que se encadeam, sem parar.
E ouço-te, ouço-me... sinto o que o abraço nos faz abraçar.
Demoramos hipnotisados nesse momento em silêncio,
Em que o corpo se esquece sem se deixar de fazer lembrar.
E surge-me uma vontade, gritante, de nos cantar, de te beijar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Agri-doce

Junta a tua tristeza à minha.
Vamos solta-las com uma gargalhada.
E no meio dos nossos abraços vê-las partirem.
Fiquemos os dois, largando o aperto do coração,
Deixando o sentimento ir junto com a ilusão.

Vem, junta a tua tristeza à minha,
E vamos desenha-las com a pluma da recordação
Em traços a sépia, espirais até chegar ao fim.
E sem a matar, porque não se pode,
queimar a folha e guarda-la em esboço na memória.

Junta a tua tristeza à minha,
Juntemos as lágrimas, as perguntas sem resposta.
E deixemos voar pelo ar a fantasia duma vida,
Que devagar se escoa num passado por nós abençoado.
E no presente resgatá-la, de mansinho, para nós.

Vem, junta a tua tristeza à minha,
Não to vou pedir, vou implorar: aceitemos o passado,
O meu, o teu... cada um lindo e triste.
Porque me tocaste, eu toquei-te, eu percebi, tu percebeste
Que nos aconteceu querer, de mãos dadas, reaprender a voar.

domingo, 1 de agosto de 2010

Acção!

Desassossega-me os dias que trago comigo
com uma palavra fora do teu registo,
numa troca de olhares pretensamente fugitiva,
uma mão que só eu vejo estender-se no meio da multidão.
Desenquieta-me o coração que anseia respirar
com uma dedicatória disfarçadamente leve,
num momento aparentemente superficial,
um sorriso que só eu consiga adivinhar.
Como se se tratasse de um poderoso segredo só nosso,
num complot do qual só nós conhecemos os meandros,
uma aventura registada sem pelicula na câmara!